Mais da metade dos gamers no Brasil são pretos ou pardos, aponta pesquisa
População negra no Brasil ultraa os 50% entre players pela primeira vez; já público feminino, que era maior fatia desde 2016, teve queda percentual
Por Yuri Hildebrand, da Redação
O público gamer do Brasil é composto, em sua maioria, por pessoas negras. Segundo dados da Pesquisa Game Brasil (PGB) 2023, 10ª edição do estudo, o número de pretos e pardos entre os players chegou a 54,1%, superando os 49,4% registrados em 2022. Essa é a primeira vez que o grupo a dos 50%, ponto importante em um universo que traz, historicamente, pouca representatividade negra em suas narrativas, sobretudo entre os protagonistas.
Outra novidade em relação à pesquisa anterior é o aumento do público masculino: agora, 53,8% dos jogadores brasileiros são homens, contra 46,2% de mulheres. Vale lembrar que, desde 2016, essa é a primeira vez que a parcela feminina fica menor entre os gamers. Confira a seguir mais detalhes sobre o levantamento da PGB 2023.

👉 Quais games você curte jogar online? Comente no Fórum do TechTudo
A 10ª edição da Pesquisa Game Brasil 2023 foi realizada em janeiro deste ano ao redor de todo o país (26 estados e o Distrito Federal) e contou com um total de 14.825 pessoas. O levantamento, realizado anualmente desde 2013, foi feito em parceria com a faculdade ESPM e a Blend New Research, sendo desenvolvido pelo Go Gamers, unidade de negócio da SX Group.
Em 2022, o estudo focou bastante no comportamento relacionado ao isolamento social devido à pandemia da Covid-19. O número de pessoas que afirmam jogar algum game vinha de um aumento nos últimos anos, mas dessa vez caiu pouco menos de 4%, saindo dos 74,5% para 70,1% em 2023. Considerando o link entre o aumento de jogadores no país e o distanciamento causado pela pandemia, essa queda pode ser uma “consequência” da volta à normalidade após a crise sanitária.
Mais pessoas negras jogando, mas público feminino ‘diminui’
Um número que chama atenção é o de pessoas que se autoafirmam negras, que ou dos 50% pela primeira vez nos 10 anos de PGB. Com 54,1% dos entrevistados, a soma de pretos (12,7%) e pardos (41,4%) superou o percentual de gamers brancos, que chegou a 42,4% em 2023. Vale reforçar que essa diferença já era vista na pesquisa anterior, mas saiu de menos de 3% para quase 12% (antes era de 49,4% para 46,6%).
Já considerando a divisão por gênero, o percentual de homens superou o de mulheres pela primeira vez desde 2016, com 53,8% contra 46,2% do público feminino. A diferença é grande em relação a levantamentos anteriores: em 2021 e 2022, por exemplo, elas representavam 51% do público gamer brasileiro.

Vale lembrar que as gamers costumam enfrentar diversos casos de assédio no meio, sobretudo em partidas ranqueadas ou jogos multiplayer em geral. Segundo uma pesquisa de 2021 realizada pela Reach3 Insights junto à Lenovo, por exemplo, 59% das jogadoras escondem seu gênero nas partidas, como uma forma de evitar o assédio por outros players. Essas e outras situações podem levar a um afastamento de determinados tipos de games ou até mesmo da experiência em si, que acaba desgastando bem mais que divertindo.
Principal entretenimento, recorte social e sucesso do mobile
Um destaque importante da PGB 2023 está na porcentagem de pessoas que consideram games como sua principal fonte de entretenimento: 82,1%. O número é bem superior aos 76,5% do ano ado, e indica uma fidelidade maior do público. Vale ressaltar que o levantamento leva em conta quem afirma jogar algum game, ou seja, aqueles que já têm os jogos eletrônicos como opção para se divertir.
O estudo também traz um recorte social do público gamer brasileiro, composto majoritariamente pela classe média (considerados B2, C1 e C2), com 65,7% do público total. Já as classes D e E representam 10,4%, enquanto os mais ricos ficam com 12,3% (A) e 11,7% (B1). Aqui, fica nítido como a diferença de renda impacta no o aos games, já que as principais plataformas do mercado exigem investimentos maiores, como os consoles de última geração ou PCs gamer com capacidade para rodar games atuais.

Com isso, o segmento mobile segue crescendo entre os gamers brasileiros. Com 51,7% dos entrevistados preferindo usar smartphones para jogar, a pesquisa registrou um aumento em relação a 2022, que teve 48,3% escolhendo o celular como plataforma principal. Além da facilidade de o, sobretudo com games menos exigentes e com uma boa base de jogadores para explorar modos multiplayer, por exemplo, são mais em conta frente a um console ou PC, a depender do modelo.
Os computadores voltados para jogos, inclusive, apresentaram uma queda percentual no total de usuários em relação a 2022, ficando abaixo dos consoles como plataformas preferidas. É importante ressaltar que, hoje, montar um PC gamer equiparável a um PlayStation 5 (PS5) ou Xbox Series X, tops de linha do mercado, pode sair cerca de duas vezes mais caro.
E o consumo?

A PGB também levantou dados sobre o consumo entre os gamers, que apontaram uma porcentagem interessante de pessoas que não têm o costume de pagar para jogar (20,4%), assim como as que preferem títulos gratuitos (39%). Ainda assim, há um mercado forte em cosméticos e extras, como moedas, itens de melhoria e expansões. Segundo o consultor da Go Gamers, Mauro Berimbau, isso se explica pelo atual modelo de negócio, em que “os games são cada vez mais vendidos como serviços e não (mais) como produto”.
Outro levantamento interessante é o de usuários dos serviços por , como Xbox Game e PS Plus: 42,8% afirmaram não ter nenhum dos dois para jogar. Vale lembrar que o segundo chegou ao Brasil apenas em 2022, enquanto o próprio Game ainda é muito recente. Dessa forma, o comportamento pode mudar no futuro, sobretudo com lançamentos e clássicos chegando “de graça” por meio desses serviços de biblioteca de jogos.
Preferência pelo competitivo e atividade física presente
Em se tratando de esports, mais brasileiros afirmaram conhecer bem o cenário: 82,9% dos entrevistados, contra 81,2% das respostas em 2022. Não é uma alteração tão grande, mas, dessa vez, a PGB 2023 puxou ainda o percentual de gamers que praticam algum tipo de esporte eletrônico. Esse número é de 48,8%, ou seja, quase metade do público joga modos competitivos, mesmo que nem sempre de forma profissional.

Falando em esporte, a atividade física não está ausente da vida dos gamers brasileiros - ao menos não da maioria. Segundo a PGB 2023, são 67,1% os que praticam algum tipo de exercício. Além disso, a regularidade também foi um destaque, já que 38,9% se exercitam quatro vezes na semana, enquanto 24% dos entrevistados o fazem, pelo menos, cinco vezes. Mais um dado trazido pelo levantamento que vai de encontro com um estereótipo clássico do público gamer: a relação entre sedentarismo e o hábito de curtir jogos eletrônicos.